sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Dois orelhões desabados, nariz no chão. ( praça Polidoro)

Eu me obrigo a caminhar na Praça. E, nesse jugo, desencontrada de querer, passo a passo, encontro o morador de rua, braços abertos, sujo. Desvio o olhar. Porque obrigar-se a caminhar requer a dinâmica de se dizer ' a vida é bela, sigamos, amiguinhos'. O morador de rua provoca angústia. Há em nós a iminência de ser ele, num talvez. Todos podem se tornar seres largados por si mesmos, por nós, por eles.
Então me censuro por desviar os olhos.
Mas desvio os olhos assim mesmo, sigo.  Marchar, não. Aí já é demais!
O lago sem água desanima. Se antes não havia o mosquito da dengue, um arquiteto lírico sonhou o azul. Já era! 
O calor aumenta. Vamos sem lago.  Alcanço a banca da esquina . Dois orelhões desabados, nariz no chão. 
Passando um casal jovem e seu filho, olhar ávido de busca. Penso neste filhote que não sabe como teria sido o mundo antes da decadência.  
 -  Nem eu  sei, filhote,  o que houve, talvez, o neoliberalismo.
Duas voltas, fica bom.