sexta-feira, 18 de julho de 2014

Uma única chance da sanidade, o ensino.

Desde a morte da minha mãe em torno da qual devo ter empenhado a vida, passei a viver envolta em sombras de tristeza.
Meu trabalho de professora já não era tão bom, eu tinha perdido o sentido dele. Aliás, passara a ser perdedora em todo sentido...
Mas hoje quando eu vinha dum médico onde fora p dizer que não quero mais tomar antidepressivo, que já chega, dou conta da vida , vi dois jovens no portão. Paguei o táxi e descobri que era a Lívia e o Guilherme, alunos do ano passado, que hoje estão na Santa Casa.
Foi um estranho e belo encontro. Pois pude entender duma vez por todas que a vida foi toda nebulosa, mas, não, essa minha mania de ensinar os jovens.
Gostam de mim, sempre achei que não. Que eu fosse um utilitário, feito uma borracha, um lápis. Gostam .
Uma única chance da sanidade, o ensino.

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A desenhista mediana

Quem numa cela, daí a corda, o balanço. E o impossível nem era o esboço, mas mapa completo. Rabiscar o vento pedia complexidade. Balança, balança e relata o outro lado do mundo. Lagos, fogo, bichos... Medonha noite, onde construísse a Casa. Que jeito permanecer viva no descampado?Como se permitir tresloucado sonho?
Se nem os pés encontram  um chão. Ali, aqui, nesta nova manhã.
Não desistir” – e a vida esvaía e ela, na tentação de encontrar caminho, houvesse urtigas, a lhe arranharem as mãos. Do sangue desenharia maçãs, a saia branca de minúsculas flores. Talvez no balanço chegasse às águas. Para que vaticinar urtigas? Sorria o azul, o verde, tantas texturas.
Em setembro, desenhava escadas no intento das copas. Árvores irmãs.
Mas as escadas ficavam tortas, apontando-lhe a certeza da queda. Chegou a esboçar asas, mas temeu o vôo. Volta o balanço, outra vez as escadas. E num contínuo, esmigalhando tudo.
Lá fora o ciclo e o giro. Envelhecia.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Uma média, pão com manteiga , a talha e a corveia.

Bom dia, café! Um dia, mais uma porta. Que surpresas me trará?
Dia é meu combate diário, repetição de gestos bem antigos, alguns bem rançosos, em que pese as novidades tecnológicas.
Vão aqui exemplos do ranço.
O supermercado. É a caça dos antepassados. Ai de quem não pode pagar! Vem o ''tigre'' e, morte certa: inanição, doença, depressão.
A limpeza: sujeira ainda mata e atrai peçonha. Nem adianta borrifar o bom ar. E bom se sacudir, sinhá.
Pagar contas: a talha e a corvéia medievos, por causa dos juros embutidos.
E caixas bancários: os confessionários da grande igreja contemporânea, o banco. Repare a resiliência do pagador na fila do banco! Cabeça baixa, conformado. Postura corporal de quem vive acuado. Ou de quem pecou! E quem usa o banco virtual encontra vírus pirata.
Outdoors, imagens de santo. Grandes painéis em que dormem contentes os velhos, com linda manta xadrez, ícone de proteção; no outdoor,  a moça é tão feliz!
Rezai para o outdoors, ponde-vos, de giolhos.

terça-feira, 8 de julho de 2014

fios culposos.



A madrugada fria não pretende carícias. Por isso, a tenda, bem alicerçada que é pra não teimar voo. Por companhia a lente, ajutório pra pôr ordem na coleção de desastres.


- culpa culpa culpa ...por esta meia que  aquece meus pés - meia etérea, meia de graça, meia dos astros: sinto-me um são sebastião , trespassado de fios culposos.

....

Vamos passear no parque, amiguinhos!

Não achei meus iguais. Indo ao parque toda manhã talvez eu me ache, quiçá nas folhas, quiçá, nos grupos de soldados ou até nos idosos chineses, ali, de uniforme branco,  em seus exercícios iguais, em busca duma saúde igual.

Eu sou da madrugada, a de ver crianças indo para a escola pública com seus agasalhos precários e de me enternecer tanto. E ter de cortar essa ternura por saber que, hoje, já não posso mais. 
Logo farei parte do grupo dos idosos e, se fartura houver, aprender o tricô, de linhas que se veem amigas.
Nunca fiz registro no coração dos humanos, paciência, que há de se fazer?
Amo de olhar, de olhar, de olhar.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

COPA

Arvores  dadistantacnai entre eleas,  fio de seda, feiitio a de fios coados sol rosa troncos em forma alongada não olho a copa falta de vontade do ponto onde estou a fileira as vezes chove e o espaço entre as arvores pega a cor do arco-Iris  que logo rola em  estou na cadeira de valano que foi do meu avó sei que as terras vendidas  sou alma penada  sem papel a não ser o de olhar  na transparência dos dias e pode rir quem delira é digno de dó mas prefiro isso às cordas do cipoal  agora ao menos vem-me dentro da casa voz de mulher e choro du bebê, ecos de outras mulheres e a outros vewves mas  na unidade sendo eu e uma mt teria sido feliz eu teria sido feliz m. me levaram da terra, não pude crescer nesta praia. Venho aqui dwe quando,  e setneom me na cadeira que foi do meu bisavo ,,,mas tudo  acabado, fantasma de fantasma dum pais e duns modos que mudaram tano que viro a pagina a cada dia e me pergunto o rumo, ságinas.
Faltam espátulas para abrir o caderno antigo, fo9lhas virgtens, já  roídas de gjcaaruncho. Depois vou AL pomar, o mundo  muda mas não a aossobra umbra dessas jabuticabeiras onde não pude brincar para não usjar o vestido, fetio uma bonequinha, fui criada feito bonieca por isso não sei usar o coração menos qualquer sentido. tiarangúsittiarangústia tiarangustica trote dum cavalo assim com unhas caçando com a ponta da estrela na testa libertas tiarangústic tiarangústia, vem salta muro não consigo na cadeira madeira boa  vai chegr urubu o tempo não tem espátula nalima dos qe foram e avaçançona estrrada findios fica pra trás meu aniversa - doindios as penas

https://www.youtube.com/watch?v=nk5uf9hva6M&feature=related

o peixe-pássaro



Na infância riram de mim
Na adolescência riram de mim
Os homens riram de mim
As mulheres riram de mim


Só o peixe-pássaro me afasta do mal
Só ele me ama...


E nunca estou só.

domingo, 6 de julho de 2014

O PEIXE MÁGICO...........................................


Se o mundo ficasse quieto, eu podia me ouvir, porque o barulho feio é a água no porão.
E desgraça é que escrevo no vidro que é por onde vejo o azul que não sou eu. Isso sei, graças a Deus! 
Sou um naufrágio por isso imito o peixe que de estar ali preso é perdedor de qualquer conta com o mundo. Ali quieto. Mas vai se salvar. Salvar é o jeito!
Minha condição podia ser a dele, é pior. Pra mim, vêm louças quebrando, tapetes batendo. Eu e eu. E o aquário  de se proteger com um cone e dentro, o peixe, feito à lume.
 Que caos é tão pendido pra totalidade? Que a única chance de silêncio e sentido é o lume e o silêncio. O lume me divide ao meio. Nem aqui, nem ali. Por isso, bom mesmo é o silêncio, mas a música inclusa nele.  Silêncio assim não significando omissão, descaso, isso também é silêncio. 

Barcelona Sessions #2 Milagre dos Peixes



sábado, 5 de julho de 2014

Conhecer é perceber o que acontece sempre ou frequentemente

A farra dos crus
De medo, a gata escondeu-se embaixo do fogão. E toca a achar a gata.
Depois, sobe e desaparece.
Tudo por causa dum medonho e cru que atiçado na brasa do campeonato torna-se agente dum foguetório bem no miolo da calçada. Não parou e , por fim, eu indo à pizzaria, salto feito pipoca eu, na calçada, por conta doutro rojão calibrado.
- Seu filha...
Até os anos sessenta mulher não falava palavrão.

.................

Pizza& celular

os casais mais jovens - com ou , sem filhos- olham o celular. 
Daqui um tempo as paredes ressentir-se-=ão do olhar humano.


Lá vão os homens na enganosa velocidade

Olha que já saí do escuro, o que vejo agora é uma escada surgida do porão. Alço a sala e rasgo a janela. Lá vão os homens  na enganosa velocidade.

Não há como viver no tempo de hoje sem acompanhar o ritmo doente. É preciso saltar, rasgar cortinas obscuras. 

 Melhor tentar o passo dos homens lépidos. Sem perder o compasso alcanço a penumbra 
e os pratos girando.



Quando a professora vê que seu aluno é muito conservador e também...


(De'' A professora particular'', dos originais dum livro que talvez fique pronto) 

O que ela faz se o aluno que ele ama diz que preferia ver os moradores de rua numa melhor? E melhor, aí, é mortos?
O que ela faz se treina alunos para passarem no vestibular de medicina? Deve parar de dar aula?
Diria que sim, fosse há algum tempo. Perdi alunos por causa dessas posturas. Eu pedia que saíssem do curso. Mudei.
Mas hoje fiquei estarrecida quando um rapaz confessou ser indiferente ao fato de que os doentes mentais morram abandonados nas ruas. Mas justo ontem numa conversa com dois queridos discutimos exato isso. E foi o que lhes disse.
Falei do pensamento balde. O que é? Feito classificar pessoas e colocá-las em baldes coloridos. Assim. Todos os coreanos são metidos. Ou, meninas loiras de classe alta são metidas. Fica fácil isso. O pensamento geralmente gosta da facilidade. Pensar de verdade cansa.
Tive um aluno inteligentíssimo para quem a solução para os sem-teto seria a neve: " Caísse neve no Brasil e morriam todos. Fosse na Europa , eu queria ver...".
Simples pensar assim. Até porque tenho a impressão de que o pensamento gosta de simetrias. Os desenhos dos azulejos com figuras apontando pra lá e outros quadrados pra cá descansam os olhos.
Quem diz que é esquisito ver uma menina baixinha namorando um cara enorme? Quem diz que não namoraria uma gorda? Quem diz isso gosta de simetria. Mas pensemos, disse eu. O olho precisa reaprender que a riqueza pode estar no que é assimétrico, seja nas formas, nos costumes, na maneira de pensar. 
Por tudo isso, resolvi que é melhor aceitar o aluno do jeito que ele é. Porque o conservador tem o direito de ser conservador. E tem o direito de falar o que pensa. Ficar chocado com ele e tocá-lo da vida não é bom. Trocamos ideias então?
Fui uma menina criada em família de pai conservador e mãe pseudo-libertária, quase barroca, torcendo-se e talvez sofrendo em suas contradições.
Eu quis rasgar de mim os conservadorismos e pulei de cabeça no risco de pensar por mim. Mas no começo discriminei os conservadores. Relacionei-me com pseudo-libertários e leve na pele as balas e facadas do que um libertário confuso pode fazer com alguém.
Daí, do alto dos meus mais de cinquenta anos, a quase velha de que tanto falo, vejo-me no direito de ser conservadora quanto quiser. E libertária por natureza. Ganhei - depois de tanto sofrer - um lugar bom na montanha dos pensadores. Sou livre, ou quase.
Deixo os conservadores jovens serem o que são e diálogo com eles. Porque há esse equívoco de jogar o que é confuso no balde das ideias fáceis.
Certa vez um aluno querido me afirmou que gostava do darwinismo social, assim, quem pode vive, quem não que baixe e vá morrer na sarjeta.
Argumentei a ele que não há chances para todos e que nada é em linhas reta e que a economia não pode ser biologia. E argumentei que nem tudo é ideologia. Sei que a ideologia vem por tabela na cola da economia. Foi confortável para os burgueses ascenderem socialmente as máximas dos iluministas. Liberdade sim, para os burgueses terem força pra lutar e tomarem  o pódio. 
Mas creio no humanismo como uma evolução da espécie. Somos mais solidários hoje porque entendemos que o outro merece tudo assim como eu. Nesse sentido o cristianismo é um humanismo. Não tenho medo de dizer que sou cristã. 
Porque na Antiguidade falar em amor era coisa de mulherezinhas - que eram consideradas nada nada naquele tempo. Cristo falou em amor ao próximo. Claro que as bases feudais gostaram das ideias cristãs, pois, com elas, subjugaram os servos, que aprenderam, inclusive, a submissão e cresceram na crença de que só o sofrimento salva. E assim não reivindicavam nada.
Podemos pensar que a solidariedade é um modo de a humanidade sobreviver. Vamos de mãos dadas,nós, espécie animal, sem dentuças ou garras, sem urros e maiores defesas.Vamos juntos para nos garantirmos no planeta. Podemos pensar nisso.
Mas, além disso, há o humanismo, consciência de que, se queremos evoluir mentalmente, se queremos nos tornar mais felizes, devemos buscar o bem de todos. Reparemos o quanto ficamos bem quando de nós brota o amor e não, a raiva. O quanto dói odiar as meninas ricas que nos desprezam.
Passei a vida mastigando vingança pelo que meus amigos do colégio fizeram comigo. E fui infeliz.
Já vi em alguns alunos a reprodução dos babacas que riam da minha cara só porque eu fosse mineira, só porque eu fosse baixinha, só porque eu fosse tímida.
Uma vez tive a manha de buscar no orkut todos os colegas do prezinho e fazer um encontro. E não ir ao encontro. Só para me vingar.
Eu era muito magoada. Mas vejo que aquilo me prendia.
Amar o conservador sim,claro. E tentar trocar ideias com ele. Foi o que disse ontem a um aluno ,  que é o máximo de inteligente e que vem cultivando ideias ultraconservadoras. Li com ele uma entrevista com a candidata francesa, a Marine Le Pen. E concordei que ela diz coisa com coisa. Ela pode estar certa quando vai contra a globalização e a entrada de mais imigrantes do que que a França comporta. Mas eu ponderei: o que importa é o que ela pensa em fazer com os imigrantes. E o como ela pode vê-los como bode expiatório para a crise europeia. A culpa não é dos imigrantes.
Só vamos nos libertar de ideias prontas, das ideias simplificadoras, se nos colocarmos a tarefa de ler.É pela leitura vária que entenderemos os porquês das lutas de classe,  das lutas entre etnias.
Tive um professor no cursinho que mudou a minha vida. Ele me treinou para ser marxista. Eu me apaixonei por ele e virei marxista. Não cheguei a namorar com ele, que era bem mais velho que eu e no meu tempo alunos não namoravam professores. Mas a paixão me desviou do caminho. Foi e não foi bom. Eu teria entrado no cursinho para ser psicóloga e fui parar nas ciências sociais.
O professor mudou meu caminho. Eu me tornei insuportável, pegando no pé de minha família e até de minha avó que tanto me amava e que não sabia que o discurso dela emparelhava-se com o mais conservador. Vovó achava que os negros eram inferiores. Peguei pesado com essa avó. Ela teve seus últimos dias de vida bem longe de mim,  na época, nas ciências sociais e cheia de palavra de ordem.
Vovó não mudaria mas era boa. Tirava roupa do corpo para cobrir o mendigo que dormisse na rua. Que culpa tinha ela de ter aquela ideia? E outros conservadorismos que eu também execrei. Em plena época da liberdade sexual eu me via como uma moça totalmente 'travada' tanto ouvira dela a ideia de castidade. Quem podia falar em  castidade nos anos setenta?
Hoje,apaziguada não penso que castidade seja coisa boa, mas também não penso que possa ser uma aberração. O que realmente importa é avaliar o que você viveu e como é que se safou das coisas, o que tirou delas. A vida há de ser um aprendizado inteiro, constante. 

Quando a professora vê que seu aluno particular com quem ela discute humanidades se mostra com pensamentos conservadores?
Ela não deve fazer nada. Não pode evitar de amá-lo; não pode evitar de amá-lo menos, ou não amá-lo.Mas precisa ver que ele é uma pessoa e que como ela foi,  ele é jovem. E o jovem se sente atraído a coordenar sua impressão do mundo. E quase sempre é atraído por radicalismos, seja lá que ideologia seguir.
Por isso lhe digo que ainda que tome posturas repense-as.  Isso é novo, somos novos o tempo todo, novos até para aceitarmos certos conservadorismos.
Não é preciso encher a cara para provar que é solto, descolado. Não precisa queimar fumo pra dizer isso ou aquilo.
E, se for queimar fumo, que não faça disso uma grandeza. Queimar fumo é só queimar fumo. E se pode abrir a cabeça pode também tirar a memória. É por isso que sou a favor da liberação das drogas. Só assim vamos discuti-las sem espanto,moralismos.
Tive amigos com problemas psiquiátricos que de tanto usarem drogas piraram pra sempre. Tive amigos que com drogas e muita contestação ficaram tão distantes dos pais que se mataram.
Não dou regras, não sei o que é a vida,como fazer da vida. Mas sei que é preciso aceitar quem seja conservador e conversar com ele.
Porque a sociedade já envelheceu, apodreceu quase, em lutas ideológicas que não levam a nada. A conversa,  os fóruns de discussão, e , sobretudo, a busca de uma paz interior que não se deixe assombrar pelo outro , o diferente, o que me ameaça,seja porque me humilha, justo porque é mais rico que eu; o diferente que afirma que judeus são do mal. Conversar. Conversar com eles. Há chance de demovê-los das ideias mais brutas. 

jack Johnson

http://www.youtube.com/watch?v=pNlmn7vbXBQ

A afinação dos peixes

Arrebento da cabeça a tampa,
Deixo a escorrer tinta e silêncio.
E escuto a afinação dos peixes,
Escorrendo e, em cuia.
Sobre a mesa, cortados, tremem.
Melhor amarrar um ao outro,
Peixe devora peixe, é a vida...
Mas o meu amor não é peixe.
O meu amor são todos os peixes.


Wes Montgomery - The Girl Next Door (1965)



sexta-feira, 4 de julho de 2014

É difícil envelhecer

Tenho de fazer um esforço danado pra largar de ser boba! E dar valor ao simples - e magnífico -  fato de poder andar. Eu sou muito boba.
Envelhecer é uma tarefa para o espírito. Carece ver de trás pra frente. Esquecer o que foi.
- Deus, Deus, me ajude a me aceitar do jeito que sou hoje. Já não olham pra mim na rua, nem me dizem bobagens.
Deus, que jeito consegue me ver, se há tanta gente?


Os pássaros do meu bairro piam estridentes. Fazem louca confusão e morrem. Mas não vejo o enterro dos pássaros. Onde é que caem?
Fazem barulho, correm no azul e somem. E nem pensam que suas pernas perderam a beleza. Decerto nem avaliam a beleza. O que pensará um pássaro? O mesmo que, um cachorro?
O que pensa Clarice, agora no quintal?
Onde andará Yuri, meu cachorro que morreu? Às vezes tenho a impressão de que, se o chamasse, ele viria. Mas morro de medo de espírito. E, morrer de medo da morte é a morte na vida. Eu sou boba mesmo.
Porque a impressão é de que podia falar com ele, saber como vai. 
Medo de loucura. Quem conversa com almas? 
Se há tanto que ver, por que lamentar a perda das pernas bonitas?
É essa sociedade que me habita.

Alguém talvez acorde melhor

Dormir não é garantia de melhora.
Mas o tirano, o prefeito, o chefe do tráfico, o menino do colégio, até um cavalo, o caixa do banco, a moça do vestido decotado: e o assassino, e a moça do xerox...O rapaz que não passou na Fuvest; o amigo que ficou na estrada. E todas as causas que ela diz não terem mais função...Tudo dorme.
Alguém talvez acorde melhor.
Eu.

dez . 2010

Os fracassados - gravação ( depois da foto das Andrews Sisters)

http://roseeseusamigos.blogspot.com.br/2012/04/os-fracassados.html?updated-min=2012-01-01T00:00:00-08:00&updated-max=2013-01-01T00:00:00-08:00&max-results=50

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Meus problemas com ruídos vêm de longe....

Este texto é de 2010


Uso o eu com dignidade, ainda que, sob a vigilancia do apito do maldito guarda, tantas vezes morto, na tortura de não suportar barulho e ruido. Uso a primeira pessoa com dignidade, limpa da culpa de, por azar ou fado, exagerado ter nascido em terra e no tempo de limpeza dos vestigios de qualquer lateralidade pendida prum baque -  do cume ao chão -  com as mãos, estas sim, subjetivas, de sofreguidão de aguentar um peso ainda que fechando os olhos, na visão do precipício.


Decência é um eu, arranhado sob espécies já secas. Olhar a odisseia desse eu  gelado mas, partido e, porque partido, necessitando de cura, esta que se dá apenas, acossada em primeira pessoa do singular.


Neste ruído de apito de guarda-noturno, o bico de apitar para afugentar peçonhas; nesse uivo de gente que vê o futebol.  Gritasse menos, ai meu Santo Expedito! Livrai-me da tentação de achar que quem grita me invade.  
O guarda aperta o bico, o garfo, rasgando a pele num 'i', pior que o mísero som, maligno, cujos passos pretendem guardar um grupo que hoje vê o futebol e, inclusive, esses meninos chegando a Terra e crendo na bola e no pé. Felizes meninos, eu também sou feliz. 


Porque uso o eu, com dignidade, sem medo e gritando gol gol gol...Porque escrevo é com olhos fechados , na necessidade de desmaiar no capim o de dentro da minha cabeça , feliz, porque sou eu e eu , conforme escrevi, digno e sem vergonha.  .

quarta-feira, 2 de julho de 2014

A escritora no ar

Na janela pegando carona no sol da Lua, a gatinha, a herança benigna da minha mãe. Estou aqui olhando uma velhinha bem velhinha, magra, do outro lado da rua. Duas muletas. Anda com tal dificuldade,
E me identifico com ela.
Meu fardo , esses desenhos,herança dum infância não concluída. 
Sem maturidade , arfo pela rua da vida, carregada de bonecas, esses desenhos alegres. E não tenho no olho a certeza da Lua que a tudo olha, certeira. Zás! 
A velhice sou eu daqui um tempo.
Preciso largar as bonecas no passeio. Não se caminha com peso. 
A palavra é meu ofício. Ensino a escrever.
Podia ter sido cantora, bailarina. E desenhista. Tive um certo talento pra tudo isso. Mas agora isso acabou.  A realidade são as palavras. O resto é perigoso delírio.
Sei que palavras não seduzem, a não ser que alguém as leia.  Mas  ainda sou professora, e as utilizo em aula. Toda professora pode ser uma escritora no ar. Meus livros são as aulas.
---Antes que eu termine  a vida bem mal, peço pelo amor de Deus: não digam que gostam dos meus desenhos. São tolices, leviandades de mulher velha que ainda sonha com grandes painéis. Mas a ela só a janela, a gata e a contemplação duma velhinha quentando o sol lá fora.

Quando o preconceito linguístico toma conta duma professora de Português

 Assim que eu disse 'alô' quis saber se era da companhia de seguros. Pareceu feliz ao saber que eu fosse professora de redação, precisava duma professora. Ia fazer exame da ordem.
Disse que havia visto meu número na placa da rua, que a casa ficava em frente à padaria Orquídea; que era advogado, formado há um ano pela Unip; mas que não tinha bem certeza se vira ali, talvez. Que precisava desesperadamente de aula de redação!
E de repente começou a me chamar  pelo nome da minha mãe. E logo se explicou que tinha ouvido mal, que o nome era o mesmo da mãe dele. E quis saber exato qual era meu nome.
Tenho placa,  sempre trabalhei com placa, mas ela jamais deu resultado. Sou profissional do boca a boca: o único aluno que ela me trouxe foi o Luiz Otávio. 
(Vou tirar a placa, até porque essa é feia, a outra de metal  roubaram no tempo da reforma da casa)
- Não moro em frente à padaria, mas, ao botequim. O Senhor me falando assim destrambelhado...Fico com medo de ser ladrão. Nem sabe onde achou meu telefone.
- Pode ficar tranquila, não sou ladrão. Preciso de aula de redação! Meu caso é grave! Não passo na Ordem se não tiver aula de redação.
- Então, me dá seu telefone fixo.
- Não tenho, só celular. Mas liga pra cá agora. É o escritório onde trabalho...Anote: 5571...
- Moço, aí pode ser a sede dos bandidos! Quero saber onde se formou.
- Eu ''se formei'' na Unip.
- Não quero ter preconceito linguístico,mas o 'se formei' para um advogado ficou estranho.
- Preciso tanto das aulas.
- Falar assim é terrível para um advogado.
- Falo assim na intimidade.
- Intimidade...Uai...Não sou íntima.
- Vamos marcar. Amanhã, terça, dia 2, às 19 e pouco. Saio do trabalho, aí perto, vou direto.

A paixão é um narcisismo daquele que perdeu pedaços de si

Se você se apaixonar por um escritor, creia que é uma escritora recalcada. Se fugir de casa para morar com um desenhista do qual não consegue se separar, melhor sair , comprar caneta e papéis. E deixe essas pessoas pra trás. Não vai dar certo. Você ama é a si mesma, querida
(...) a paixão. 
...é um sentimento que nos faz ver no outro a essência que é nossa, mas que está impedida de brotar. Daí, a euforia que desperta; daí a dependência afetiva, o sofrimento. Precisamos urgentemente de nós mesmos.
Tenho tal sentimento como o de consistência parca. É inferior. Busco outros paços.


terça-feira, 1 de julho de 2014

Quando o som do vizinho nos atrapalha a vida

Há um limite exato que nos obriga ao autocontrole. Percebo isso agora. Até hoje eu vivia bem com os vizinhos donos do boteco, mas, daqui pra frente, isso acabou. Com a Copa ficou claro que não se importam com os demais. HOje o homem ri em grande estilo, até agora, quase 22 h.
Conheço a família desde os meus 19 anos, quando me mudei p essa casa.
Daqui p frente, não entro lá, não converso, se encontrar na rua. Preciso não criar caso p não me tornar a vizinha megera que implica com quem curte a vida. Farei força., muita força e vou aprender - com sofrimento enorme= e me controlar com o barulho da barbárie.
É isso ou, vou ter problemas. Há uma hora em que é preciso aceitar a grosseria humana.
É este o ponto que nos faz virar monstros. Ele não para, parece filme do Polansky. Nao para. Mas vou aguentar. Jamais dedaria alguém, a não ser que houvesse risco de morte. Escolho não fazer isso
Um filósofo existencialista disse que nossa expressão do rosto é consequência do que escolhemos. Eu prefiro uma expressão mais tranquila. Não quero que os ''uivos'' desse senhor invadam minha vida.