quarta-feira, 2 de julho de 2014

Quando o preconceito linguístico toma conta duma professora de Português

 Assim que eu disse 'alô' quis saber se era da companhia de seguros. Pareceu feliz ao saber que eu fosse professora de redação, precisava duma professora. Ia fazer exame da ordem.
Disse que havia visto meu número na placa da rua, que a casa ficava em frente à padaria Orquídea; que era advogado, formado há um ano pela Unip; mas que não tinha bem certeza se vira ali, talvez. Que precisava desesperadamente de aula de redação!
E de repente começou a me chamar  pelo nome da minha mãe. E logo se explicou que tinha ouvido mal, que o nome era o mesmo da mãe dele. E quis saber exato qual era meu nome.
Tenho placa,  sempre trabalhei com placa, mas ela jamais deu resultado. Sou profissional do boca a boca: o único aluno que ela me trouxe foi o Luiz Otávio. 
(Vou tirar a placa, até porque essa é feia, a outra de metal  roubaram no tempo da reforma da casa)
- Não moro em frente à padaria, mas, ao botequim. O Senhor me falando assim destrambelhado...Fico com medo de ser ladrão. Nem sabe onde achou meu telefone.
- Pode ficar tranquila, não sou ladrão. Preciso de aula de redação! Meu caso é grave! Não passo na Ordem se não tiver aula de redação.
- Então, me dá seu telefone fixo.
- Não tenho, só celular. Mas liga pra cá agora. É o escritório onde trabalho...Anote: 5571...
- Moço, aí pode ser a sede dos bandidos! Quero saber onde se formou.
- Eu ''se formei'' na Unip.
- Não quero ter preconceito linguístico,mas o 'se formei' para um advogado ficou estranho.
- Preciso tanto das aulas.
- Falar assim é terrível para um advogado.
- Falo assim na intimidade.
- Intimidade...Uai...Não sou íntima.
- Vamos marcar. Amanhã, terça, dia 2, às 19 e pouco. Saio do trabalho, aí perto, vou direto.

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