sexta-feira, 4 de julho de 2014

É difícil envelhecer

Tenho de fazer um esforço danado pra largar de ser boba! E dar valor ao simples - e magnífico -  fato de poder andar. Eu sou muito boba.
Envelhecer é uma tarefa para o espírito. Carece ver de trás pra frente. Esquecer o que foi.
- Deus, Deus, me ajude a me aceitar do jeito que sou hoje. Já não olham pra mim na rua, nem me dizem bobagens.
Deus, que jeito consegue me ver, se há tanta gente?


Os pássaros do meu bairro piam estridentes. Fazem louca confusão e morrem. Mas não vejo o enterro dos pássaros. Onde é que caem?
Fazem barulho, correm no azul e somem. E nem pensam que suas pernas perderam a beleza. Decerto nem avaliam a beleza. O que pensará um pássaro? O mesmo que, um cachorro?
O que pensa Clarice, agora no quintal?
Onde andará Yuri, meu cachorro que morreu? Às vezes tenho a impressão de que, se o chamasse, ele viria. Mas morro de medo de espírito. E, morrer de medo da morte é a morte na vida. Eu sou boba mesmo.
Porque a impressão é de que podia falar com ele, saber como vai. 
Medo de loucura. Quem conversa com almas? 
Se há tanto que ver, por que lamentar a perda das pernas bonitas?
É essa sociedade que me habita.

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