sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Não sou uma mulher que tenha óleo de máquina em casa. Quem sou eu afinal.

Não sou uma mulher que tenha óleo de máquina em casa. Quem sou eu afinal.
Nem toda faxineira irá me compreender. Nunca fui dona de casa, não entendo de óleo de máquina ...ainda mais de costura!
Mas não entendo também de outras coisas que donas de casa entendem. Eu nunca tive bem uma casa, sempre morei no entorno duma espécie de escola. Sou um rato de escola, um giz, uma lousa, uma coisa!
Tudo vai se tornando difícil à medida que envelheço. Pois , chega uma hora que as pessoas não vão mais entender minimamente que eu não seja uma mulher que não tenha óleo de máquina, nem chave de fenda. Nem sabe como dobrar as roupas, nem sequer passa as roupas.
Não vão entender meu jeito. Não ser compreendida é um abismo pra alma. Nunca fui mas no mínimo eu era.
Mas agora pensam: é uma senhora, portanto, tem óleo de máquina. Não tenho óleo assim cmo não tive marido e nem foi porque eu fosse feia, desprezada , a sociedade é porca, só valoriza as bonitas. Mas a beleza se inventa. Isso é bobagem. Ocorre que...
O sol hoje entra pela casa dum jeito que me deixa ofuscada. E a fala da faxineira foi cabal, ela me delimitou: antes de depois do óleo; Porque eu sou capaz de passar todo dia pela porta que está com ferrugem, empurrar a porta e nem ligar pra ferrurgem. Pois minha vida é uma ferrugem só mas eu tenho vindo empurrando tudo e conseguindo grandes voos que vistos de fora parecem nada mas pra mim são mais que voos. E não sou uma dona de casa embora tenha de tomar conta dessa , uma navio atracado no BraSIL ARCAICO.
A moça reclama da porta, pede óleo de máquina e me delimita. Não , não me erimporta a ferrugem da porta. Isso me delimita tabmém. Sou uma mulher quenão se importa com a ferrugem. Mas logo vão me emporcalhar e colocar numa prateleira cheia de óleo e vão me classificar querendo - porque sou velha= que eu seja , tenha sido, num passado de mãe e de óleo de máquina. Não fui mãe, bem que eu quis, mas ...Mãe ...Não houve tempo. Eu espanava a ferrugem, o caruncho, de tudo que me envolvia estando onde estou, assim com asas de voar e ferrugem...
Não quero perder a faxineira, mas , ela precisa me enxergar um pouco. Não sou a dona Marisa que mora em casario , tem 9 cachorros e 3 empregadas. Não sou tambem mulher de ter muitos cães - pensam que é pra compensar a falta de amores e filhos. Não tenho muitos cães.
Não fui menina de querer nem festa de quinze anos. Naquele tempo eu já disse que preferia um cachorro. Sempre arreliei minha mãe, inclusive, vendendo na surdina um piano que ela tinha me dado só pra exibir meus dons. Engoli os dons e vendi o piano. Vingança, meu bem.
E diz que não se contam intimidades no fcb, que isso aquilo. Eu escrevo em qualquer canto, na calçada, na parede. Uma vez levei uma coça, por ter rabiscado um galinheiro desativado , lá duma casa . Não pintavam a casa, os meus colegas riam da nossa pobreza , então, amasseis uns gizes, fiz uma pasta e pintei tudo. Mas apanhei. Mas escrever escrevo , pintar a coça levou.
Sou o que se arranha na mesa e no chão e imagine, meu bem, a faxineira me dando satisfação dizendo que o chão com essa cera , senhora!, não brilha. Entendo lá de cera, minha filha. Só comprei porque cê pediu,,,
Minha aluna me escreve...Justifica a falta. O namorado violento, drogado, leva prostitutas em casa, ela fugiu. E eu fico assim lendo isso e querendo que ela venha pra cá. Mas não posso. Não tenho mais a condição de acolher ninguém assim que foi tão eu antes.
Lamento. Sou a mulher que não acolhe e que não tem óleo de maquina e que precisa começar a se arrumar pois vai dar aula daqui a pouco.

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