terça-feira, 24 de junho de 2014

Tirou a máscara quando voltou pra casa.

E te amava.
Mas me faltava leitura dos fatos. Por isso, permiti a sua bota na minha garganta.
Só que hoje depois que você se foi virei um tablado de madeira, podre e esfiapada. Um covarde espantalho, medroso de que lhe roubem raro verdume. Nada me emociona, nem o jogo do Brasil.
Eu, que fui alegre feito um coelhinho bobo das histórias de fadas - as tantas que você me contava lá no passado ...
Esta minha luz de alegria inútil e oscilante é que assoprava o meu catavento da alma. Apagou.
Sobrou a obtusidade de não ter compreendido até agora quem foi você. Nem a sua fúria de se livrar de mim nestes últimos dez anos.
E, sem um enredo mínimo, não se caminha. Uso as palavras, quem sabe... É por isso dou valor a elas. Só elas contornam fatos, o dentro, o fora.  E contornam um rio provável.
Se eu ficar cega, ainda terei comigo o rosário das letras. Com elas moldarei o vermelho e ainda lhe darei tonalidades. Criarei escadas pra ver o sol; e, compressas para olhos queimados. 
Não me importam as cores, mas o que se pode dizer delas.
Mas, sem enredo que -ponto à frente e ponto atrás- me beatifique com a penumbra da compreensão, eu não crio sentido. E as palavras viram pregadores de roupa, grampos de cabelo, signos vazios.
Todo mundo devia ter o compromisso de se explicar minimamente. Já é previsto que o casulo vire borboleta, mas, não pude prever que você viraria o que...
Vamos nos recordar a noite em que  tive a impressão de que lhe caíra a máscara. A ocasião da sua volta. Foi espalhando seus objetos pela cozinha. E tirando os meus. "Essa prateleira é a sua. Deve caber tudo" . E depois foi me encantoando. 
Não alcei o mundo adulto. Hà maldade nele. Não compreendo.
Sobrou-me uma madeira podre e um espantalho. Tudo muito seco. E fiquei muito velha de repente.

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